O maior acesso da oposição a Lula à Casa Branca poderia comprometer projetos econômicos de interesse do governo brasileiro, segundo assessores presidenciais. Nas palavras de um técnico da área econômica, “a questão não é o que Trump acha do Lula, mas o que o bolsonarismo diz a Trump o que pensa do Lula”.
Na entrevista de sexta, Lula disse que a possível vitória da sucessora de Joe Biden é importante “para o fortalecimento da democracia nos Estados Unidos”.
“Como eu sou amante da democracia, acho que é a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir para bem governar nosso planeta, eu obviamente fico torcendo para Kamala Harris ganhar as eleições”, declarou.
A possibilidade de Trump vencer Kamala preocupa também sob o ponto de vista econômico. As promessas do republicano de aumentar as tarifas de importação a níveis elevados para proteger os produtores nacionais, e a redução de impostos domésticos, indicando menor capacidade fiscal, são combustíveis para a inflação e os juros americanos. O Brasil e outros países em desenvolvimento seriam diretamente afetados.
Na outra ponta, simpático à candidatura de Kamala, o governo Lula acredita que o humor da democrata com o Brasil será influenciado diretamente pelas relações sino-brasileiras. O presidente chinês, Xi Jinping, estará no Brasil este mês para uma visita de Estado à margem da cúpula de líderes do G20.
Entre alguns exemplos, uma eventual adesão ao Projeto Cinturão e Rota — programa chinês trilionário para investimentos em infraestrutura em nações em desenvolvimento conhecido como a Nova Rota da Seda — poderia se tornar um problema. O Brasil tem déficit comercial superior a US$ 1 bilhão/ano com os EUA, segundo maior parceiro do país, atrás da China, que nos rende superávit na casa de US$ 30 bilhões.
O desrespeito às normas e aos acordos internacionais é outro ponto citado por interlocutores do governo brasileiro, assim como as ameaças feitas por Trump a países que abandonarem o dólar, em um claro recado ao Brics. Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco é composto, hoje, por dez países em desenvolvimento, que discutem um sistema de pagamento no comércio que não inclua a moeda.
Para o governo Lula, um ponto a favor de Kamala é que os EUA presididos pelo democrata Joe Biden concordaram, junto com os demais países do G20, em defender o crescimento econômico com sustentabilidade, o que inclui aspectos sociais e ambientais. Pela postura assumida em seu primeiro mandato, Trump poderá voltar atrás nesse princípio, que foi considerado uma vitória do Brasil no G20. As informações são do jornal O Globo.